Não só agarrar, ela se preparou, consciente também da realidade social em que estava inserida. Oriunda de escola pública em Belo Horizonte (MG) e autodidata no inglês, a educação trouxe um salto transformador na vida dela e dos familiares.  

“No ensino médio, recebi bolsa de um programa para estudar em um colégio de excelência, influenciando inclusive meu pai a finalizar os estudos, já que havia abandonado quando jovem pois precisava trabalhar”, contou, em entrevista à CNN.  

Leia Mais

“A educação não só me permitiu expandir meus horizontes de maneiras inimagináveis, como também ajudar minha família”, acrescentou a jovem, hoje estudante do curso de ciências políticas e economia, com ênfase em educação e América Latina, na Universidade Harvard. 

Com interesse nas áreas de políticas públicas, política comparativa e desenvolvimento internacional, Sofia já se engajou em pelo menos dois projetos de pesquisa em dois anos de graduação.  

“Atualmente estou fazendo uma pesquisa sobre relações raciais e o movimento trabalhista no Brasil entre 1945 e 1980, focando em líderes sindicalistas negros e em como o mito da democracia racial afetou políticas trabalhistas e vice-versa", exemplificou.  

Sobre a experiência de intercâmbio nos Estados Unidos, ela destaca a “possibilidade de conhecer pessoas do mundo inteiro e engajar em discussões estimulantes sobre todos os assuntos possíveis”.  

“As aulas [em Harvard] são cativantes e participativas, e os professores são, na maioria das vezes, os maiores especialistas das suas respectivas áreas”, comentou.  

A universidade detém o número mais alto de laureados com o Nobel -- são 150 ganhadores que já foram docentes por lá -- além de ser a quarta melhor universidade do mundo, segundo o último QS World University Ranking.  

Preparação para estudar em Harvard 

Embora o sonho já existisse desde a infância, foi no ensino médio que Sofia começou a se preparar para entrar na Ivy League desejada.  

“O primeiro o foi trabalhar o inglês, a fim de alcançar fluência a nível de conversação, escuta, leitura e escrita, e fazer o teste de proficiência. Em seguida, foquei em me engajar em atividades extracurriculares”, detalhou.  

“Participei de projetos de pesquisa, trabalho voluntário na área de educação e programas de empoderamento feminino. Também participei de olimpíadas científicas e programas de verão internacionais.” 

Além disso, Sofia mantinha boas notas na escola e cultivava bons relacionamentos com os professores e orientadores. Durante o processo de candidatura em Harvard no último ano do ensino médio, ela também recebeu apoio de um programa gratuito que a orientava até ser aprovada

O primeiro o para estudar no exterior é desenvolver o autoconhecimento, disse Sofia • Arquivo pessoal
O primeiro o para estudar no exterior é desenvolver o autoconhecimento, disse Sofia • Arquivo pessoal

E qual o primeiro o para estudar no exterior? 

De acordo com Sofia, o primeiro o para estudar no exterior é desenvolver o autoconhecimento e “entender quais os seus objetivos a curto e longo prazo”.  

“O processo exige muita compreensão dos seus propósitos de vida e trajetória acadêmica e pessoal, além de ser necessário conseguir articular os motivos de querer ir para faculdades específicas”, disse.  

Para os avaliadores, é importante saber como o aluno vai contribuir com o mundo no futuro, em qualquer carreira que escolha. “É um processo desafiador.” 

Dicas para quem deseja ingressar em universidades norte-americanas 

A principal dica de Sofia é acreditar em si mesmo e no seu potencial. “Todos nós carregamos uma bagagem única e, apesar dos desafios, continuamos seguindo em frente todos os dias. É essencial reconhecermos as nossas lutas, vitórias, pontos fortes e aprender a usar isso a nosso favor.” 

“Outro ponto essencial é agarrar as oportunidades quando elas aparecem. Infelizmente, não é sempre que elas estarão lá, mas se elas estiverem ao alcance, não tenha medo de correr atrás e de tentar fazer acontecer.”

A brasileira também recomendou procurar programas gratuitos no Brasil que ajudam jovens de baixa renda a alcançarem o sonho de estudar fora, além de oportunidades de engajar em projetos extracurriculares ou até mesmo de criar o seu próprio. “Então recomendo a proatividade e a consistência”, respondeu.  

Por fim, outra dica seria: “não ter medo de perguntar ou de pedir ajuda, principalmente para as pessoas ao seu redor, pois é essencial termos apoio para alcançar nossas metas”. 

Mais brasileiros em Harvard  

Incentivar outros brasileiros e estudantes de baixa renda a ocupar Harvard é um dos orgulhos de Sofia. Atualmente, ela é co-presidente da Harvard Undergraduate Brazilian Association, uma associação para estudantes internacionais do Brasil ou com ascendência brasileira. 

“É um espaço para compartilhamos nossa cultura no campus e estabelecermos uma forte comunidade mesmo longe de casa. Temos aproximadamente 60 membros e planejamos diversos eventos todo semestre: cafés da tarde, viagens, festas, eventos culinários, bate-papos profissionais, integração com ex-alunos e programas de mentoria”, celebrou.

Comunidade de estudantes brasileiros em Harvard • Arquivo pessoal
Comunidade de estudantes brasileiros em Harvard • Arquivo pessoal

Quando o assunto é qualidade educacional, o Brasil tem um longo caminho para melhorar o desempenho dos estudantes da educação básica. No país, menos da metade dos estudantes com 15 anos conseguiu atingir um nível mínimo de aprendizado em matemática e ciências, de acordo com os resultados obtidos no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes). 

E, para um brasileiro chegar a espaços acadêmicos como Harvard, ainda é preciso de algumas exceções.  

“O potencial do efeito multiplicador de estudar lugares como Harvard é infinito, e todos os brasileiros que vejo estudando aqui têm em seus planos, de uma maneira ou de outra, ajudar a fazer o Brasil um lugar melhor e trazer mais brasileiros para esse tipo de ambiente”, finalizou a jovem.  

 

Tópicos
bolsas de estudoEstados UnidosHarvardintercâmbio