Reconhecendo os méritos da ciência, Francisco destaca que as soluções para a crise ecológica não serão somente técnicas. Para ele, é indispensável uma transformação cultural mais ampla, que envolva os valores, a espiritualidade e a ética das sociedades.

Francisco defende que a superação da crise climática exige a participação de toda a sociedade, convocando à reflexão, ao diálogo e à mudança de comportamento. Reconhece a relevância das ações locais e globais, mas adverte que elas ainda são insuficientes diante da gravidade do cenário. 

Francisco propõe uma revisão dos estilos de vida e convida à adoção de práticas mais simples, solidárias e responsáveis. Nesse caminho, renova o compromisso da Igreja com a construção de um futuro justo para as próximas gerações.

Publicada pelo papa Francisco em 2015, a encíclica foi um apelo à humanidade para cuidar de nossa “casa comum”, o planeta Terra. No texto introdutório, Francisco faz uma retrospectiva das encíclicas que tratam de questões ambientais.

A encíclica Pacem in terris, publicada em 1971 pelo papa Paulo VI, aborda as questões ecológicas, discorrendo sobre as consequências dramáticas das atividades descontroladas do ser humano, com uma exploração insensata da natureza. O papa Paulo VI advertia que a humanidade corria o risco de destruir a natureza e a si, caso o progresso científico, a evolução tecnológica e o desenvolvimento econômico não estivessem unidos a um progresso social e moral. Prevenia, enfim, sobre a necessidade urgente de uma mudança radical no comportamento humano.

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Prosseguindo, o papa Francisco lembrou que João Paulo II aprofundou-se nas questões ambientais, alertando já em sua primeira encíclica para a tendência humana de reduzir a natureza a mero objeto de uso imediato. 

João Paulo II propôs uma conversão ecológica global e criticou a falta de empenho na preservação dos fundamentos morais que sustentam uma verdadeira ecologia humana. Ele considerava a destruição do ambiente como um problema grave, pois atingia a sacralidade da vida.

João Paulo II defendia que o cuidado com o planeta exigiria mudanças profundas nos estilos de vida, nos modelos econômicos e nas estruturas de poder. O progresso autêntico, segundo ele, deveria estar fundamentado em valores éticos, respeitando simultaneamente a dignidade humana e a ordem natural. 

O papa Bento XVI destacou a importância de “eliminar as causas estruturais das disfunções da economia mundial e corrigir os modelos de crescimento que parecem incapazes de garantir o respeito do meio ambiente”, lembrando que a degradação ambiental está ligada à cultura que molda a convivência humana.

Bento XVI afirmou que as feridas do meio ambiente e do tecido social têm origem em comportamentos humanos irresponsáveis. Segundo ele, essa degradação comum resultaria da rejeição de verdades fundamentais, promovendo uma liberdade sem limites. 

“O meu apelo”

Em sua encíclica, o papa Francisco pondera que “O urgente desafio de proteger a nossa casa comum inclui a preocupação de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral, pois sabemos que as coisas podem mudar”.

Francisco acreditava que a humanidade ainda dispunha dos meios e da vontade necessários para reconstruir um mundo mais justo e sustentável, desde que houvesse cooperação global e compromisso ético com o bem comum.

Embora reconhecesse os progressos alcançados pelos movimentos ambientalistas, o papa lamentava que muitas propostas concretas fossem barradas por interesses políticos e econômicos ou esvaziadas pela indiferença generalizada. “Infelizmente, muitos esforços na busca de soluções concretas para a crise ambiental acabam, com frequência, frustrados não só pela recusa dos poderosos, mas também pelo desinteresse dos outros”.