A primeira e declarada intenção é destruir, ou pelo menos atrasar ao máximo, a capacidade de Teerã de desenvolver uma bomba atômica.
Mas as últimas declarações dos líderes israelenses e também alguns dos alvos dos ataques da Força Aérea do país indicam outros interesses – que podem ou não ser alcançados.
Desde o início da ofensiva, Israel mirou posições estratégicas ligadas ao aparato militar iraniano, além das instalações nucleares em Natanz, onde o regime vem tentando enriquecer urânio para a criação de bombas atômicas.
Entre os alvos estão centros de comando da Guarda Revolucionária, depósitos de mísseis e instalações de inteligência.
Para o governo israelense, um Irã com bomba nuclear desestabilizaria o Oriente Médio e representaria uma ameaça existencial contra o Estado judeu.
No ado, Israel já tomou medidas para impedir o o dos aiatolás a esse tipo de armamento, incluindo uma série de operações secretas, o assassinato de cientistas iranianos e ataques cibernéticos que danificaram as centrífugas em instalações nucleares do país.
Tel Aviv também conduziu incontáveis outras ações de sabotagem em Natanz.
Os ataques seriam, portanto, uma escalada enorme com relação ao primeiro objetivo –que talvez pudesse ser alcançado de outra forma, como pela diplomacia, por exemplo.
Mas na sexta-feira, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu indicou que há uma meta ainda mais ambiciosa em jogo.
Netanyahu fez um pronunciamento sobre o conflito e, em determinado momento, falou diretamente ao povo iraniano, numa tentativa clara de estimular os dissidentes do país a agir contra o regime.
“Eu tenho uma mensagem para o bravo povo do Irã”, disse ele. “Nossa luta não é contra vocês. Nossa luta é contra a ditadura brutal que os oprime há 46 anos.”
O primeiro-ministro israelense afirmou ainda acreditar que “o dia da sua libertação está próximo”.
Ao projetar um cenário de reconciliação futura, ele afirmou: “E quando isso acontecer, a grande amizade entre nossos dois povos ancestrais florescerá novamente.”
Por fim, reforçou a posição de seu governo sobre a questão nuclear: “Quero garantir ao mundo civilizado: não permitiremos que o regime mais perigoso do mundo obtenha as armas mais perigosas do mundo.”
As palavras de Netanyahu deixam claro que, para além do arsenal atômico, o foco é o colapso da República Islâmica.
Israel e Irã mantêm uma relação hostil desde a Revolução Islâmica de 1979 que levou ao poder o aiatolá Ruhollah Khomeini.
Com a queda do xá Reza Pahlevi, aliado do Ocidente e de Israel, o país ou a ser governado por um regime teocrático xiita.
Desde então, os dois países se consideram ameaças existenciais mútuas.
O Irã apoia, financia e treina grupos armados anti-israelenses, como o Hezbollah, o Hamas e os Houthis. Esses grupos seriam, inclusive, a primeira linha de defesa de Teerã contra ataques de Tel-Aviv.
Eles, no entanto, estão muito enfraquecidos juntamente pelos conflitos dos últimos meses com Israel –o que abriu espaço para Tel Aviv partir para o ataque direto contra Teerã.
Apesar da clara oposição israelense ao regime dos aiatolás, promover sua queda é um desafio imenso.
O sistema político iraniano, apesar de muito impopular em camadas da sociedade do país, é fortemente blindado por estruturas militares e religiosas.
A Guarda Revolucionária exerce papel central na repressão interna e no controle de setores estratégicos da economia. Mesmo sob sanções internacionais, o regime aprendeu a resistir e a se adaptar.
Ainda que haja insatisfação popular, como visto nos protestos em massa desde 2022, a população iraniana não vê Israel como um aliado natural.
Pelo contrário. A causa palestina, por exemplo, continua mobilizando a opinião pública iraniana contra Tel Aviv.
Essas percepções tornam muito difícil qualquer tentativa externa de impulsionar uma mudança política no país.
Para que isso ocorra, seria necessário um colapso econômico ainda mais profundo.
Além disso, protestos populares teriam que se manter de forma contínua e articulada. E Netanyahu não é exatamente o “cheerleader” que conseguiria fazer isso.
Outro fator seria a divisão entre as elites do próprio regime. Por fim, o isolamento internacional do Irã teria que se tornar insustentável.
Atualmente, nenhuma dessas condições está madura o suficiente para provocar uma ruptura.
Mesmo abalado, o regime mantém controle sobre os principais centros de poder e conta com apoio estratégico de países como Rússia e China.
Netanyahu, no entanto, vai continuar apostando no aumento da pressão. Mas essa estratégia é arriscada e pode ter efeitos colaterais graves.
Se fracassar, poderá fortalecer ainda mais os setores mais radicais dentro do Irã –que, aí sim, vão tentar construir uma bomba atômica a qualquer preço na intenção de garantir a sobrevivência do regime.